Voluntários ou Chamados
Texto: Lc 17.7-10
Uma grande denominação lançou uma campanha: “Deus precisa de você!” O objetivo era
levantar voluntários para o trabalho missionário. Até compreendo os motivos, mas falando
biblicamente Deus não precisa de ninguém. Ele não está procurando alguém que de boa vontade
queira ajudá-lo.
Nosso Senhor não veio à terra e foi crucificado porque se colocou como voluntário. Ele
veio porque foi enviado por Deus. Tudo que fez foi fruto de obediência à vontade de Deus.
Muitas vezes ele se referiu a si mesmo como enviado e outras tantas disse que nada fazia por si
mesmo, mas apenas cumpria a vontade de Deus.
Hoje, porém no meio da igreja vemos um pensamento mundano sutilmente tomando lugar,
a ideia de que a obra de Deus é feita com voluntários.
Antes de mais nada, preciso esclarecer que um coração voluntário é algo bom e bíblico.
Deus deseja que seus filhos tenham esse tipo de atitude com relação a ele, a voluntariedade de
fazer de cumprir o desejo do seu coração. Mas quando falo de voluntário falo de outra coisa.
Estou me referindo a um tipo de pessoa, um movimento mundial de pessoas que se dispõem a
fazer algo para ajudar das mais diversas formas atendendo todo tipo de necessidade humana. É
chamado de movimento do voluntariado.
O voluntário, como descrevo aqui, é aquele que um belo dia parou observou uma
necessidade qualquer e tomou a iniciativa de ajudar como voluntário. Para os padrões do mundo
e das coisas naturais isso é bom e até desejável, mas definitivamente não é o padrão para a Casa
de Deus. Deus não trabalha com voluntários, mas com chamados.
Se nossos membros de célula possuem essa mentalidade de voluntariado e estão aqui apenas
para ajudar, então não faremos obra de Deus, mas teremos apenas um movimento que
brevemenete vai se dissipar. Se por outro lado eles possuem uma clara convicção de que
foram comissionados por Deus e receberam uma ordem de liderarem e apascentarem o
rebanho então uma revolução acontecerá. Voluntários não geram frutos, apenas ajudam a
fazer um trabalho. Não estamos aqui para meramente fazer um trabalho de nos organizar em
células, estamos aqui para gerar frutos para Deus. O alvo não é o trabalho, mas os frutos.
No decorrer dos anos tenho visto que somente pessoas convictas de seu chamado
realmente frutificam. Se a obra é feita por pessoas conscientes de que foram mandadas por Deus
para fazerem esse serviço isso vai desencadear uma sequência de poder: gente comissionada por
Deus recebe autoridade de Deus; onde quer que haja autoridade ali se manifestará poder de Deus
e onde quer que haja poder de Deus ali os frutos virão.
Há uma grande diferença entre servir o Senhor e trabalhar para ele.
Trabalhar para Deus significa que eu escolho o que desejo fazer para o Senhor. Certamente
os voluntários dentro da igreja fazem para o Senhor, mas fazem aquilo que gostam, podem ou
que julgam mais importante ou necessário. Servir a Deus é diferente, servir significa que eu faço
o que Deus me mandou fazer. Não importa se é o que gosto nem se é o que as pessoas precisam
ou esperam de mim, eu faço porque fui comissionado. Servos não escolhem trabalho, servos
obedecem. Se aquilo que fazemos para Deus não é fruto de obediência, então é puramente uma
obra humana que por fim será rejeitada por Deus.
Pessoas chamadas respondem ao chamado divino e não ao chamado das necessidades
humanas. Elas não estão apenas comovidas pelos que se perdem, mas elas ouviram a voz do
Espírito Santo.
Todo trabalho espiritual deve começar com um chamado do Espírito.
Toda obra divina deve ser divinamente iniciada.
A obra de Deus não é feita por voluntários, mas por homens chamados e recrutados. A
intenção humana ainda que boa, nunca pode tomar o lugar da iniciativa divina. A tragédia hoje
em dia é que muitos saíram para fazer o trabalho, mas não foram enviados.
A primeira exigência na obra de Deus é um chamado divino, tudo depende disto. Onde não
existe chamado de Deus, a obra empreendida não é de origem divina e não tem valor espiritual.
Há uma grande diferença entre alguém que faz algo porque foi comissionado, encarregado
ou mandado por Deus e aquele que resolve ser um voluntário.
1. O voluntário escolhe como servir
Ele faz segundo a sua própria vontade. A iniciativa é dele. Com relação a obra de Deus
podemos errar por desobediência ou por presunção. Desobediência é quando não fazemos o que
Deus mandou, mas presunção é quando fazemos o que ele não mandou.
Tanto a presunção quanto a desobediência são rejeitados por Deus, pois constituem a
arrogância humana tentando estabelecer o controle de sua obra.
No Velho Testamento temos história solene de Nadabe e Abiú que ofereceram fogo
estranho na Casa de Deus. Eles eram voluntários. Perceberam que não havia fogo e resolveram
dar uma ajudinha arrumando um fogo. “Nadabe e Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu
incensário, e puseram neles fogo, e sobre este, incenso, e trouxeram fogo estranho perante a
face do Senhor, o que não lhes ordenara. Então saiu fogo de diante do Senhor, e os consumiu, e
morreram perante o Senhor” (Lv 10:1-2).
Fogo estranho é aquele que o Senhor não ordenou. Aquele que age como voluntário traz
fogo estranho, pois traz algo que ele decidiu fazer e não aquilo que o Senhor ordenou. O
resultado disso é sempre morte.
Veja que do ponto de vista natural não dá para perceber a diferença entre fogo e fogo. Para
nós tudo é fogo. Mas há um fogo que é fogo estranho. O fogo verdadeiro vem da submissão à
vontade de Deus, o fogo estranho é aquele que o voluntário oferece.
2. O voluntário escolhe quando servir
Ele faz segundo o seu próprio entendimento. O voluntário presume que a sua boa intenção é
a vontade Deus. Ele não faz por obediência a uma palavra de Deus, ele faz porque quer ajudar.
Por detrás dessa atitude há uma grande soberba. Quem disse que Deus precisa de ajuda? E quem
disse que você está apto para ajudá-lo?
Um grande exemplo de voluntário na Bíblia é a história de Uzá.
“Puseram a arca de Deus num carro novo e a levaram da casa de Abinadabe; e Uzá e Aiô
guiavam o carro. Davi e todo o Israel alegravam-se perante Deus, com todo o seu empenho; em
cânticos, com harpas, com alaúdes, com tamboris, com címbalos e com trombetas. Quando
chegaram à eira de Quidom, estendeu Uzá a mão à arca para a segurar, porque os bois
tropeçaram. Então, a ira do SENHOR se acendeu contra Uzá e o feriu, por ter estendido a mão
à arca; e morreu ali perante Deus”. (I Cro. 13:7-10).
Você não pensa que a disposição de Uzá de amparar a Arca para que ela não caísse é uma
postura até louvável? Talvez devêssemos até agradecê-lo por esse ato voluntário, afinal o que ele
fez não foi uma grande obra? Por que então Deus se irou com ele? O motivo é simplesmente esse:
Deus quer pessoas que obedeçam as suas ordens, mais do que ajudem na sua obra. Deus não
precisa de ajudantes, ele busca servos que obedeçam.
Qualquer um, que como Uzá, faz alguma coisa sem a ordem de Deus está sujeito a morte.
Esse é o problema de ser voluntário na obra de Deus, estamos sujeitos a morte.
O voluntário pensa que o trabalho é mais importante, mas Deus diz que a obediência é o
mais importante. Nosso trabalho para Deus deve ser fruto de nossa obediência ao seu
chamado.
O que você faz é porque tem a convicção de que Deus o chamou para isso ou você é apenas
um voluntário que se dispôs a ajudar?
3. O voluntário não depende de Deus, mas da força própria.
Na verdade alguém se apresenta como voluntário justamente porque avaliou e concluiu que
consegue fazer aquele trabalho. Voluntários só fazem o que conseguem. Sei que pode parecer
loucura, mas Deus pode chamar pessoas para fazer coisas que estão muito acima da força delas.
Coisas que elas nunca se disporiam a fazer por elas mesmas. A obra que é de Deus é aquela que
está acima de nossas forças, porque somente essa obra exige fé e dependência do poder Deus.
Voluntários fazem só o que conseguem porque não dependem de fé, eles dependem da
capacidade humana. Por isso o que fazem é meramente natural.
4. O voluntário não aceita cobrança
A expectativa é de reconhecimento e gratidão pelo enorme sacrifício que ele supõe estar
fazendo para ajudar. Eles sempre supervalorizam aquilo que estão fazendo contando tudo o que
tiveram de deixar de fazer ou de desfrutar para ajudarem naquele trabalho. Assim nunca
podemos esperar excelência de um voluntário, porque do ponto de vista deles já fazem além do
necessário.
5. Voluntário não se dispõem ao sacrifício
O voluntário não aceita ser confrontado ou corrigido. Não se pode exigir coisa alguma de
um voluntário, mas temos sempre de esperar pela sua disposição. Se hoje ele quer trabalhar, tudo
bem, mas se amanhã ele amanhecer indisposto ele não fará coisa alguma, afinal, pensa ele, não é
minha obrigação, sou apenas um voluntário.
Um voluntário não pergunta: “qual a vontade do Senhor?” antes ele apenas olha onde há
uma necessidade. Evidentemente queremos suprir necessidades, mas fazemos isso porque
entendemos a vontade de Deus e nos submetemos a ela. Qualquer obra que não é fruto de
submissão a Deus é uma obra meramente humana.
Essas atitudes são completamente diferentes daquelas de uma pessoa que foi comissionada
por Deus. A obra de Deus não é feita com voluntários. Ser voluntário significa que a obra
começa em mim. Eu percebo a necessidade e eu resolvo o problema. A verdadeira obra de
Deus é iniciada por Deus e mantida por ele.
O voluntário pensa ter do que se gloriar no final. Você percebe que o voluntário é cheio de
justiça própria? É como se ele dissesse: ninguém queria fazer, mas eu fiz. Olha como sou fiel.
mas aquele que foi comissionado sabe que fez apenas o que foi mandado.
Na obra de Deus o que mais importa são os homens e não os métodos ou estruturas. De
nada adianta ter a estrutura certa se os homens não são certos. Cremos que a estrutura de
células é de Deus, mas ela não terá valor algum sem homens de Deus para conduzi-la.
Há uma grande diferença entre aqueles que chegam e dizem: “estou aqui para ajudar” e
aqueles que dizem “estou aqui porque o Senhor me mandou”. Os que estão aqui para ajudar são
apenas voluntários, mas aqueles que vieram fazer a vontade de Deus por fim darão muitos frutos.
O compromisso de Deus é com aqueles que ele chamou e comissionou.
A obra é de Deus e não nossa. Sendo assim devemos nos ajoelhar e orar nos dispondo nas
mãos dele até que ele nos dê convicção de que fomos realmente separados para essa obra.
Quando sabemos que fomos chamados para liderar, ou fazer qualquer outra coisa, a nossa
atitude muda completamente. Já não esperamos força do homem, mas sabemos que aquele que
nos chamou vai nos dar poder para executar a obra.
Não paramos se outros desistem, pois sabemos quem nos chamou.
Se mudamos para outra cidade continuamos ali nosso trabalho de liderar, pois nosso
compromisso antes de tudo é de obedecer ao comissionamento que nos foi feito por Deus.
É muito bom ter o desejo de ajudar, perceber uma necessidade e se dispor a supri-la, mas a
boa intenção não pode substituir a iniciativa divina. A principal qualificação para a obra de Deus
é a convicção de que fomos chamados e que estamos aqui cumprindo ordens celestiais.
É impressionante a força e a autoridade que sentimos quando sabemos que estamos fazendo
algo porque Deus nos mandou. Ter uma palavra de Deus é o verdadeiro poder em nossa obra.
Uma pessoa com essa convicção será uma arma poderosa nas mãos de Deus. Poder dizer: “eu
estou aqui porque Deus me mandou” faz com que as pessoas se calem para ouvir.
Evidentemente isso também aumenta muito a nossa responsabilidade. Não existe nada pior
que desobedecer a uma ordem ou chamado de Deus.
Nesse ponto você pode perguntar: “como sei que Deus me chamou para liderar uma célula?”
ou ser um “Anjo da Guarda” de um novo convertido?
Deus vai usar basicamente cinco formas:
a. A voz do Espírito Santo
O Espírito Santo fala ao nosso coração. Tudo o que fizer faça movido por essa voz interior
no seu espírito. O verdadeiro líder de célula é aquele que ouviu a voz do Espírito Santo e
obedeceu.
b. A revelação nas escrituras
Eventualmente nossos olhos se abrem e recebemos luz de Deus em determinado texto. Ali
somos tocados por Deus e entendemos que ele está nos comissionando. Nunca despreze a leitura
da Palavra de Deus pois ela é um meio poderoso de se ouvir a voz de Deus.
c. Uma pregação
Deus libera a sua palavra no meio da congregação. Uma igreja viva e saudável tem sempre
uma palavra da parte do céu liberada para o rebanho. Deus pode usar uma pregação para trazer
um toque profundo no seu coração. Uma vez que isso aconteça obedeça ao toque do Espírito e
não apenas ao apelo do pregador.
d. A evidência das circunstâncias
Precisamos sempre estar atentos às circunstâncias porque Deus move as coisas ao nosso
derredor para falar conosco. As circunstâncias não são o critério mais importante para se ouvir
de Deus, mas elas são uma importante confirmação daquilo que o Espírito já falou conosco.
e. A confirmação dos irmãos
De todas essas formas, porém, a voz do Espírito Santo falando no seu coração e lhe
trazendo convicção é certamente a mais importante. Mas a Palavra de Deus nos ensina que
precisamos ter a confirmação de nossos líderes, irmãos mais maduros e com mais experiência
espiritual. Não vivemos isolados, somos parte de um corpo. Aquilo que Deus quer falar
conosco ele vai confirmar no coração de nossos líderes.
Um ponto precisa ser enfatizado aqui. Deus é quem chama, mas são os nossos líderes
quem nos separam para o trabalho de Deus. O chamado é pessoal, mas a separação é da
igreja. Deus pode ter chamado você, mas talvez ainda precise esperar até que seus líderes o
separem. Voluntários fazem o que querem, começam e param quando bem entendem, mas
aqueles que são chamados se submetem ao corpo da igreja.
Segundo a Palavra de Deus os presbíteros da igreja podem designar líderes. Eles possuem
autoridade para isso e você deveria enxergar nisso uma forma de Deus escolhe-lo, mas isso não
deveria acontecer sem que algum sinal da voz de Deus tenha sido observado no coração.
Uma vez que isso aconteça nunca diga que você lidera porque o pastor mandou ou porque
não tinha mais ninguém para fazer. Lembre-se sempre que o verdadeiro líder possui um
chamado espiritual.
Chega de voluntários em nosso meio. Precisamos de líderes de células que sabem que estão aqui
porque foram chamados por Deus para essa obra nesse tempo.
Por: Pr. Aluizio A. Silva
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